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O ABRIGO (2011)

NOTA 7,0

Drama convida o espectador a
vivenciar o cotidiano amedrontador
de protagonista que não sabe se está
louco ou tendo visões proféticas
Os empresários donos de salas de cinema é que só visam lucros ou é o público que cada vez está mais alienado e vendido a tecnologias que prometem uma experiência única no escurinho do cinema a preços exorbitantes? Infelizmente essas duas hipóteses já faz tempo que ganharam o status de constatação e com isso quem sai prejudicado é o próprio espectador, principalmente aqueles que se dizem cinéfilos e perdem a oportunidade de ver excelentes filmes no cinema simplesmente porque eles não têm firulas visuais ou necessitam que a cadeira chacoalhe em determinados momentos. Sem passagem pelas telonas, a maioria também é lançada no formato home vídeo sem grande publicidade e mais uma vez não chega ao conhecimento do grande público. É triste ver que esse quadro não acontece apenas no Brasil, mas é um problema mundial, o que explica o fracasso de O Abrigo, um sucesso de crítica e exibido em diversos festivais que acabou não arrecadando nem o suficiente para cobrir seu mísero orçamento. A trama se passa em uma pequena cidade em desenvolvimento no estado de Ohio onde vive Curtis (Michael Shannon), um homem trabalhador, honesto e amoroso e dedicado com a esposa Samantha (Jessica Chastain) e com Hannah (Tova Stewart), sua filha de apenas seis anos que está prestes a ser submetida a uma cirurgia por conta de uma deficiência auditiva. A família vive em harmonia, mas obviamente tem seus problemas, inclusive financeiros. Enquanto a mulher tenta vender bordados em uma feira popular, geralmente tendo que baixar os preços para conseguir alguma venda, Curtis leva a sério a posição de chefe de família como uma espécie de protetor e cuida para que nada falte em sua casa. Operário de obras, ele tem não tem um emprego dos sonhos, mas ao menos garante a cobertura das necessidades básicas, incluindo um plano de saúde, algo essencial neste momento para Hannah. Contudo, ventos ruins parecem soprar. O rapaz começa a ser atormentado por constantes pesadelos e ilusões envolvendo ameaças a sua família, principalmente à filha. Tais pensamentos remetem a uma forte tormenta com catastróficas consequências e são compreendidas por ele como espécies de pressentimentos de que algo ruim está para acontecer. As imagens assustadoras que só Curtis vê fazem um contraponto interessante ao bucólico ambiente em que reside, um local que transmite paz e a sensação de que nada de mal pode vir a abalá-lo, embora a região constantemente sofra com violentas tempestades e tornados, mas não na proporção de seus pensamentos.

Sempre ligados a pessoas, objetos ou animais que fazem parte do seu dia-a-dia, tais alucinações pouco a pouco passam a transtorná-lo drasticamente, desde um simples trovão, passando pelo medo do cão da família atacá-lo ferozmente até o comportar diferenciado de uma revoada de pássaros. Curtis vai se afastando dos amigos, torna-se displicente com o trabalho e perturba a esposa e a filha com delírios do tipo que o apocalipse não tarda a chegar. Chega a um ponto de que sua obsessão é reformar um antigo abrigo subterrâneo no quintal de sua casa que metaforicamente seria a sua reclusão total. O problema é que o próprio não tem certeza se é assombrado por delírios ou se realmente está tendo visões proféticas. Aos trinta e poucos anos ele está na mesma faixa etária em que sua mãe foi diagnosticada com esquizofrenia e existe o medo de ter herdado tal doença, o que o faz ocultar ao máximo seus medos dos mais próximos, assim seu afastamento repentino acaba não sendo compreendido por Dewart (Shea Whigham), seu melhor amigo que sempre dizia que Curtis tinha o essencial para ser feliz, e causa constantes confrontos com sua esposa, afinal ela não tem como se fazer de cega diante do comportamento estranho do marido, inclusive ele chega a procurar ajuda psiquiátrica em sigilo absoluto e busca resposta para seus sintomas em livros especializados. No entanto, o tempo e a preocupação que dedica ao tal abrigo são decisivos para que sua saúde mental seja colocada em xeque, mas Samantha procura relevar inclusive as agressões físicas deixando latente o amor existente entre o casal, uma relação baseada na cumplicidade e compreensão. Fora do ambiente familiar as coisas ganham contornos mais sérios. Com constantes faltas e atrasos, Curtis acaba perdendo o emprego e consequentemente não terá mais condições de pagar o plano de saúde, assim a cirurgia da filha pode ser comprometida. Apesar do peso em saber que suas ações são responsáveis diretas por este infortúnio, lutar contra seus devaneios e sentimentos desesperados é bem mais complicado. Shannon, apesar do físico robusto, consegue uma interpretação minimalista que transmite com perfeição a fragilidade do homem atormentado, introspectivo, de poucas palavras e exposto a uma série de provações, mas ao mesmo tempo transmite a imagem do homem equilibrado, de olhares atentos, amigável e com plena sabedoria de suas obrigações. A contradição do personagem é que o torna tão crível e envolvente, sendo uma interpretação forte e irrepreensível inexplicavelmente esquecida pelo Oscar e outras tantas premiações. É interessante ressaltar que as cenas de alucinações são inseridas no longa de forma natural, nunca deixando claro o que é sonho ou realidade, o que representa com fidelidade a difícil situação em que se encontra mental e emocionalmente o protagonista.

O diretor e roteirista Jeff Nichols aborda o tema da loucura com seriedade e de certa forma até de uma maneira diferenciada visto que o próprio protagonista toma consciência de sua condição e tenta esconder dos outros, assim tornando seu conflito ainda mais angustiante e claustrofóbico, o que faz alusão ao seu abrigo, uma forma de buscar segurança não só pelos seus medos externos, mas principalmente para encerrar seus fantasmas internos. Ao mesmo tempo em que busca ajuda convencional, Curtis investe nessa guarida como uma espécie de missão levando em consideração o já citado dever de proteção implícita à figura paterna e também em nome da fé visto que muitos bradam seguros de que o fim do mundo está próximo baseando-se em efeitos de fúria da natureza. Se muitos acreditam nestas profecias, ele então que está certo que vivencia fenômenos como chuvas com aspecto estranho não pode dar colher de chá para o azar. Apesar das boas intenções, o problema é que sua construção subterrânea pode trazer consequências irreparáveis para sua vida, afetando inclusive sua esposa e filha. Aproveitando-se sem autorização de equipamentos da construtora em que trabalha e chegando a desviar o dinheiro juntado com muito sofrimento para custear a operação da filha, Curtis vai melhorando as condições do abrigo já existente em sua propriedade, como trazendo ligações de alimentação de água e eletricidade, e vai estocando suprimentos e cobertores, além de dispensar várias horas de seus dias preso lá dentro como se fosse uma forma de se acostumar com um novo lar, uma maneira ilusória de se afastar de problemas, seja um mal inevitável ou curar-se de sua insanidade. No entanto, longe de tudo sua saúde mental poderia piorar e mesmo na hipótese do apocalipse, por quanto tempo ele se esconderia com sua família? E ao sair, como sobreviver em um ambiente devastado? O Abrigo erroneamente é vendido com aura de filme de terror quando na realidade é um drama psicológico que paralelamente comporta momentos de suspense que não assustam da forma tradicional, mas deixam o espectador extremamente angustiado, pois o drama do protagonista é totalmente possível e até faz uma alusão aos nossos tempos quando as pessoas preferem se trancar em suas casas pelo medo das violências das ruas, todavia, ninguém está a salvo da fúria da natureza que vez ou outra surpreende com um furioso tsunami ou uma corriqueira enchente. Assim, apesar de enxergarmos Curtis como insano em vários momentos, é muito fácil nos identificarmos com seus conflitos e sem perceber se sentir tão acuado quanto o próprio ao se deparar com um céu enegrecido ou ao ouvir um estrondoso trovão.

Drama - 121 min - 2011 

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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